Repetir cesáreas implica aumento de riscos
Parceria Folha de São Paulo
Acretismo placentário pode resultar em complicações
22.nov.2019 às 16h38 - Parceria revista Mulher SOGESP com a Folha de São Paulo
A cirurgia cesariana é a forma mais popular de dar à luz no Brasil, mas pode ser perigoso fazê-la mais de uma vez. Segundo ginecologistas, fazer cesárea após cesárea aumenta o risco de a gestante desenvolver acretismo placentário, uma disfunção considerada grave.
Nas circunstâncias ideais, a placenta —membrana que fornece nutrientes e oxigênio ao bebê durante a gravidez— se desprende naturalmente do corpo entre 10 e 30 minutos após o nascimento. No acretismo placentário, no entanto, a placenta permanece presa ao útero e deve ser retirada com auxílio médico.
Se não for feita com cuidado, a remoção da placenta pode provocar hemorragia e por em risco a vida da paciente. Em casos excepcionais, pode ser necessário remover o útero. O acretismo ainda pode afetar o funcionamento de órgãos vizinhos, como a bexiga e o intestino.
Segundo ginecologistas, mulheres que fizeram duas ou mais cesáreas têm chances três vezes maiores de desenvolver a disfunção do que mulheres que não fizeram nenhuma.espaço itau
O Brasil tem a terceira maior taxa de cesáreas do mundo: em 2015, 56% dos nascimentos foram feitos dessa forma. Na cidade de São Paulo, em 2017, a proporção foi de 81% na rede privada e 34% no sistema público, segundo a Secretaria Municipal da Saúde.
“Existe uma epidemia de cesarianas no Brasil”, afirmou Sue Yazaki Sun, ginecologista do Hospital São Paulo. “A repetição dessa cirurgia faz com que a placenta precise infiltrar a parede uterina mais profundamente para conseguir cumprir sua função [na gravidez seguinte].”
A condição conhecida como placenta prévia —na qual a placenta se desloca para perto do colo do útero, em vez de ficar voltada para cima, como seria o correto— também aumenta o risco de a grávida sofrer acretismo. De acordo com um estudo da USP (Universidade de São Paulo), 15% das gestantes com placenta prévia desenvolvem acretismo placentário.
Outros procedimentos, como retirada de miomas (tumores benignos) e curetagens uterinas (remoção dos restos do feto após um aborto), também elevam a probabilidade de desenvolver a disfunção.
É possível identificar o acretismo placentário ainda na gravidez, por meio de ultrassonografia. A disfunção exige acompanhamento pré-natal rigoroso e planejamento do parto. Caso a gestante portadora de acretismo precise dar à luz via cesárea, é necessário reunir uma equipe formada por obstetra, cirurgião oncológico, urologista e cirurgião vascular, segundo Sun.
“É uma cirurgia difícil”, disse. “A melhor medida preventiva é o incentivo ao parto normal.”