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#Examina - Segredos que não te contaram sobre o parto domiciliar

São Paulo, 03 de outubro de 2022.

Por Anderson Pinheiro

Nos últimos anos tem-se notado um aumento de mulheres que buscam pela experiência de um parto domiciliar. O discurso que inclui romantismo e até mesmo se torna lúdico. E realmente é envolvente. A ideia de estar envolta de pessoas que você ama e confia. Ter pessoas ao seu lado que você escolheu e que sabem dos seus desejos. Ser submetida ao mínimo de intervenções. Ter um parto no ambiente em que você provavelmente se sente mais segura.

No entanto, infelizmente nem todo parto é isento de riscos. Mesmo aqueles que a gente denomina de risco habitual, antigamente chamados de baixo risco.

Algumas vezes atendemos no ambiente hospitalar, ou até mesmo em nossos consultórios, mulheres que acabaram evoluindo para algum desfecho desfavorável de um parto domiciliar.  Não é incomum elas falarem: “Se eu soubesse que isso poderia acontecer, eu não teria escolhido ter um parto em casa...”. Então, o motivo deste texto é orientar você sobre os potenciais riscos que podem acontecer em um parto para que você possa fazer a escolha adequada.

Tornar-se mãe talvez seja a experiência mais transformadora de uma mulher. Quando imaginamos a maternidade pensamos em um bebê saudável em casa com seu progenitor ou com seus progenitores. Então, o que queremos é que todos voltem para casa com saúde para que possam continuar suas vidas.

Infelizmente, o trabalho de parto e o parto em si são imprevisíveis. Os livros descrevem uma forma racionalizada de entender esses momentos. Mas na prática, sabemos que nem sempre é assim.

Na grande maioria dos casos dá certo. Ainda bem. É isso que queremos. No entanto, algumas vezes ocorrem alguns problemas que aparecem de surpresa. Na nomenclatura médica chamamos distócias, quando ocorrem durante o trabalho de parto, ou alguma patologia especificamente denominada quando ocorrem no período do parto ou no pós-parto. Quando essas alterações do parto fisiológico ocorrem, na maioria dos casos, é preciso que alguma intervenção seja feita. Algumas situações são emergências, ou seja, segundos ou minutos fazem total diferença. Nesse ponto, quando no ambiente hospitalar, as intervenções são realizadas de forma mais segura e sistematizada. Essas intervenções podem diferenciar um desfecho bom de um ruim. Um bebê saudável de um bebê com sequelas. A diferença entre a vida e a morte....

Quando eu falo intervenção não significa que precise ser realizado um parto cesariano. As vezes, a correção da distócia envolve manobras que facilitam ou permitam o parto normal. Pode ser necessário locar um fórceps. Ou utilizar um vácuo extrator. As vezes a gente corrige problemas minimizando a dor com a realização de analgesia. Pode ser que o problema ocorra após a ultimação do parto. E a equipe pode realizar manobras e utilizar medicamentos para se evitar sequelas e morbidades graves.

Vou exemplificar aqui alguns problemas que podem acontecer.

- Sofrimento fetal agudo. O trabalho de parto é um momento de estresse para o bebê. Durante as contrações há diminuição do fluxo sanguíneo que nutre a criança. Na maior parte das vezes, para gestações de risco habitual, não há problemas. Mas as vezes, por algumas razões, como trabalho de parto prolongado, período expulsivo prolongado, cordão umbilical curto etc., pode ocorrer sofrimento fetal. Nessas situações, quando o parto ocorre rapidamente, está resolvido. Quando demora muito, podem ocorrer sequelas no bebê imprevisíveis.

A abordagem de um bebê que nasce após um sofrimento envolve profissionais e equipamentos específicos, que geralmente, só são encontrados no ambiente hospitalar.

- Lacerações extensas. Nesse caso, com a passagem do bebê pelo canal de parto, podem ocorrer lesões que precisam ser suturadas. O problema é que as vezes elas sangram muito e a sutura deve ser realizada da forma mais rápida possível. Quando muito profundas, ou fora do ambiente hospitalar, isso pode ser um problema.

- Ruptura uterina. Raro. Mas pode ocorrer rompimento uterino com morte do bebê e da mãe. Principalmente se já há alguma cicatriz uterina prévia.

- Hemorragia pós-parto. É a principal causa de morte materna no mundo. Quando tratada prontamente pode evitar morbidade materna grave. Quando não identificada rapidamente e tratada, pode significar sequelas graves e até morte. Algumas das intervenções só podem ser realizadas no ambiente hospitalar.

- Inversão uterina. Causa sangramento abundante e as manobras de correção deverão ser realizadas preferencialmente no ambiente hospitalar.

Enfim, a lista pode ser muito mais longa e o texto aqui poderia gerar um livro de obstetrícia. Não é o intuito. O importante é fazer você refletir. Caso você tenha algum problema durante seu trabalho de parto, parto ou pós-parto domiciliar, quanto tempo será necessário para o transporte e admissão no hospital, transporte até um centro cirúrgico, administração de medicamentos, ou realização de anestesia, ou sutura de lacerações ou manobras para correção de patologias? Ou até mesmo, quanto tempo será necessário para a realização de um parto cesariana de emergência?

Na minha opinião, é possível realizar um parto hospitalar humanizado. Com a presença de equipe que você confia, com as intervenções que você autoriza, com as explicações que você precisa e, principalmente, com segurança.

A decisão por um parto domiciliar envolve informação. A informação inclui tudo de bom que pode ocorrer e tudo de ruim de pode ocorrer também. Se ainda sim você optar por um parto domiciliar seu desejo será respeitado. Não deve ser sujeito a julgamentos. A autonomia é princípio fundamental na Medicina. Não obstante, essa decisão deve ser racional e segura.

Vale aqui uma sugestão de filme. Chama “Pieces of Woman” do Netflix. Esse filme mostra um parto domiciliar com desfecho desfavorável. Vale a reflexão.

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