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Sexo por prazer não é objetivo masculino ou feminino, é uma busca de todos', afirma psiquiatra

Parceria Folha de São Paulo

Para Carmita Abdo, do Prosex, liberdade feminina marca segunda fase da revolução sexual

12.ago.2019 às 18h08 - Parceria revista Mulher SOGESP com a Folha de São Paulo

Uma vida sexual saudável depende de bem-estar físico e mental para usufruir de experiências gratificantes, livres de coerção, discriminação e violência, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). 

Se na década de 1960 a primeira revolução sexual foi marcada pela chegada da pílula anticoncepcional, atualmente a liberação da mulher quanto à necessidade de compromisso formal para se permitir fazer sexo é o que marca a segunda fase desse processo, de acordo com a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (Prosex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Segundo Abdo, as mulheres estão vivendo uma sexualidade cada vez mais equiparada à masculina ao valorizarem a mesma liberdade que os homens desfrutam. O esforço é positivo na medida em que almeja mais satisfação na atividade sexual, afirma a psiquiatra. "Sexo por prazer não é objetivo masculino ou feminino, é uma busca de todos", diz.

A senhora afirma que estamos na segunda revolução sexual. Quais são as novidades desse momento? A primeira revolução sexual se consolidou com a pílula anticoncepcional, inaugurando uma nova era para a vida sexual das mulheres: a valorização do sexo erótico, sem a preocupação de gravidez. A segunda, vem com a liberação da mulher quanto à necessidade de compromisso formal (namoro, por exemplo), para se permitir fazer sexo. Nós do Programa de Estudos em Sexualidade [Prosex, programa do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP] desenvolvemos a pesquisa Mosaico Brasil em 2008 e a atualizamos em 2016. Observamos que a porcentagem de mulheres que se relacionam sexualmente, sem envolvimento emocional com a parceria, cresceu de 43% para 57%, enquanto os homens se mantiveram no mesmo patamar de 76% nesse período. Em poucos anos, mais 14% delas deixaram de associar a atividade sexual ao relacionamento estável, priorizando a busca de satisfação.

A pesquisa também mostrou que as diferenças entre os sexos ainda persistem. Quando isso acabará? Ainda existe diferença, e isso não é ruim, define as identidades. Aparentemente, as mulheres estão vivendo uma sexualidade cada vez mais equiparada à masculina. Ocorre que, neste momento de transição, as mulheres valorizam a mesma liberdade que os homens desfrutam como uma forma de obter mais êxito e satisfação na atividade sexual. A liberdade enseja o estabelecimento de uma identidade própria também no campo do exercício da sexualidade. Sexo por prazer não é objetivo masculino ou feminino, é uma busca de todos. Conquistada a liberdade desse exercício, as mulheres vão ressignificando o mesmo. As diferenças entre os sexos masculino e feminino são positivas. O direito à atividade sexual é que precisa ser o mesmo.

E quais são as diferenças que ainda persistem? Quando Masters e Johnson [William Masters e Virginia Johnson, pesquisadores pioneiros no estudo da sexualidade] iniciaram seus estudos, conceberam a resposta sexual como coincidente entre homens e mulheres. Hoje, admitimos que as diferenças existem no plano do conceito de prazer, para cada um, seja homem ou mulher. Por outro lado, o apelo sexual para os homens costuma ser mais visual, privilegiando a satisfação genital, enquanto as mulheres, muitas vezes, encontram no sexo um veículo para maior proximidade física com o parceiro ou parceira. Essa intimidade, quanto mais ampla e intensa, mais possibilita gratificação sexual para elas.

Por que as mulheres sofrem mais com a falta de desejo do que os homens? Os motivos que provocam falta de desejo nos homens também atingem as mulheres. Por exemplo, conflitos relacionais e déficits hormonais. Por outro lado, no ciclo de vida da mulher, os hormônios sexuais oscilam fisiologicamente de forma muito mais frequente e intensa do que nos homens. Elas têm oscilações hormonais durante o ciclo menstrual, a gravidez, o puerpério e a transição do climatério à menopausa. Ao longo da vida, a concentração de estrógenos é menor nesses períodos. Consequentemente, para as mulheres que têm vulnerabilidade à depressão, há tendência de deflagrarem o quadro depressivo nessas ocasiões, uma vez que a menor concentração de estrógenos estimula os sistemas serotoninérgicos. Isso leva à depressão, que é uma das grandes causas da falta de desejo feminino. Em resumo, a mulher tem mais vulnerabilidade à falta de desejo porque apresenta mais fatores de risco à depressão.

Qual a disfunção que mais atinge os homens? A disfunção mais frequente nos homens, em qualquer fase da vida, é a ejaculação precoce, que atinge cerca de 25% a 30% deles, em diferentes idades. Na maturidade, a disfunção que prevalece é a falha de ereção, decorrente de doenças físicas e de causas psíquicas, mais frequentes no envelhecimento. A disfunção erétil decorre de hipertensão, doenças cardiovasculares, diabetes, depressão, doenças da próstata, entre outras, mais comuns em homens acima dos 50 anos, podendo atingir metade da população masculina idosa. Essa falha vai apresentar intensidade variável a depender da gravidade da causa.

Manter o corpo saudável e a mente em atividade ajuda a ter uma vida sexual mais ativa e prazerosa? A atividade física é muito importante na medida em que protege os vasos de lesões por acúmulo de gordura em suas paredes e consequente má circulação. Esses problemas são minimizados pelos exercícios que também ajudam a manter o equilíbrio do humor, essencial para uma vida sexual saudável. Mente ativa e cognição preservada também são mais comuns em mulheres sexualmente ativas do que naquelas que têm dificuldades sexuais.

E a sexualidade na terceira idade, é verdade que melhorou? A atividade sexual se mantém para os homens, mesmo entre aqueles numa faixa etária avançada. Por outro lado, cerca de um quarto das mulheres deixam de fazer sexo a partir dos 50 anos. Além disso, metade delas a partir dos 60 já abriu mão da atividade sexual. Com a entrada na menopausa e com o envelhecimento, o interesse sexual delas tende a diminuir. Some-se a isso que, geralmente, as mulheres vivem mais do que os homens. Quando enviúvam ou se separam, muitas não retomam a vida sexual por meio de um novo relacionamento por constrangimento em relação ao seu próprio corpo, por dificuldades sexuais decorrentes de menopausa não assistida ou por doenças que afetam o desejo sexual. Esses fatores incidem negativamente sobre a manutenção da atividade sexual e fazem com que elas pratiquem menos sexo do que eles na chamada terceira idade
 

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